terça-feira, 19 de março de 2013

Eu não concordo com o confisco do Chipre. Mas sou um "fdp" de um neoliberal. E você?

Eu não concordo com o imposto aplicado aos depósitos bancários no Chipre. Não concordo por dois motivos, por razões práticas e porque sou "fdp" de um liberal adepto do capitalismo. Ou seja, eu prezo a propriedade e o direito à propriedade.

A questão prática é psicológica.

Como é evidente, esta medida, nesta altura, veio provocar uma enorme desconfiança em relação ao Euro. E a economia e os sistemas capitalistas vivem muito disso. Como liberal e defensor do capitalismo - face ao socialismo dogmático que agora parece ter muitos adeptos entre os capitalistas em Portugal (de novo) - tenho muitas dúvidas que uma medida como esta tenha efeitos positivos sobre a economia real e signifique um real ajustamento da economia cipriota. Trata-se, assim, de uma medida destinada apenas a arrecadar uma receita às custas do mérito de alguns. Como liberal, sou de opinião que não serve o argumento de que o Chipre servia como entreposto para lavagem de dinheiro. Se assim é, investiguem, castiguem, regulem melhor. Deve ser esse o papel dos Estados e da própria União Europeia.

Eu sou contra, portanto, que se taxe a riqueza como medida estrutural e reguladora porque, como liberal e defensor do capitalismo e como europeísta, penso que se perde mais do que pontualmente se pode ganhar.

Mas isso sou eu, um "fdp" de um liberal. O que me admira é que essa nova “esquerda” anti-neoliberal que para aí anda a dizer que por cá não se corta nas grandes fortunas e em quem mais tem, que não se corta no capital e no sistema bancário, essa mesma esquerda que chega a defender o regresso ao escudo, não concorde com esta medida cipriota, quase comunista e socialmente socialista. Afinal, os pobres não têm poupanças!

Que fique claro: essa esquerda que chega a defender o regresso ao escudo está a defender que, de um dia para o outro, todas as poupanças que os portugueses têm nos bancos portugueses sejam desvalorizadas em cerca de 80%. Além disso, o próprio valor dos vencimentos seria alvo da mesma desvalorização. Cresceriam certamente as exportações. Mas as nossas importações tornar-se-iam caríssimas. Um telemóvel custaria 8 vezes mais, assim como um automóvel ou um litro de gasolina. O consumo interno cairia, bem como a receita fiscal e a competitividade da economia portuguesa bateria no fundo, em décadas, devido à debilidade do nosso sistema produtivo. Muito pior do que agora, portanto. Uma desvalorização das poupanças, brutalmente maior do que no Chipre.

Eu sou contra a saída do Euro. Sou contra a renegociação da dívida. Sou contra a taxação exagerada do capital. Sou contra o confisco de depósitos no Chipre. Eu sou contra medidas socialistas e quase comunistas como esta.

Mas sejamos claros: o que aconteceu no Chipre é aquilo que muita gente tem andado a defender em Portugal, recordando com saudade os tempos em que podíamos usar a desvalorização cambial para ganhar competitividade.


Os que cá defendem isso em oposição ao que chamam neoliberalismo não podem estar contra esta medida tomada no Chipre. Porque desvalorizar o escudo 10%, como antes se fazia com a política cambial, era exactamente a mesma coisa que retirar 10% aos depósitos dos portugueses, ao seu vencimento, ao seu valor.

Eu não tenho saudades disso, mas sou um "fdp" de um neoliberal.

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